Moradores de “lixão” também são
desvalidos
Os “lixões” das cidades é uma das áreas
mais carentes dos municípios e que ainda abriga famílias que trabalham e
sobrevivem em dificuldade nestes locais.
Desenvolver projetos que contribuam com a melhoria da
qualidade de vida e que despertem conscientização de valores como os de
responsabilidade social são um dos objetivos da formação da conscientização de
cidadania.
Um dos principais fatores de impacto
ambiental é a eliminação de resíduos sólidos. No Brasil são geradas em média de
240 mil toneladas diárias de lixo segundo dados do IBGE. As gestões municipais
costumam destinar uma área em bairros de baixa renda e isolados para despejar
os resíduos sólidos (lixo domiciliar) produzidos. Trazendo acúmulo de riscos de
contaminações e proliferações de doenças infectocontagiosas para a população
local assim como, as interferências ambientais e sociais aos moradores do entorno
desses terrenos. Os lixões correspondem a áreas aproximadas (por baixo) de
10.000 m2. A população alvo destes moradores desses lixões é formada
basicamente por adultos jovens, com idade média de 28,6 anos. Os homens são
maioria, perfazendo aproximadamente 55%, enquanto as mulheres 45%. O nível de
escolaridade dos moradores é considerado baixíssimo, visto que 37,86% não
apresentam ensino básico completo (1ª a 4ª série), 47,85% não apresentam ensino
fundamental completo, e somente 14,29% cursam o ensino médio. A renda mensal
gerada exclusivamente do lixão nos traz aproximadamente os seguintes
resultados: uma variação de R$ 100,00 a 400,00, com média de R$ 256,15, por
cada catador de lixo.
Sobreviver. Este é o principal motivo
que leva centenas de pessoas a trabalhar diariamente nos lixões. Dessas, muitas
vivem em pequenos barracos de lona construídos nos arredores das montanhas de
lixo.
Devido ao alto grau de matéria orgânica
e metais pesados", a contaminação trazendo prejuízos salutares graves é
inevitável. A contaminação atinge, principalmente, as crianças e causam doenças
de pele, verminoses e diarreia, podendo levar à morte.
Estes lixões constantemente colocam os
moradores em risco. A forte presença de gás metano e chorume presentes no
subsolo podem causar contaminação e até mesmo explosões, como já ocorreram em
vários estados brasileiros.
Os lixões são responsáveis pela
proliferação de espécies exóticas de plantas e de animais, como urubus, ratos,
baratas e cães, dentro do meio urbano. Os bichos urbanos caçam as espécies
endêmicas e espalham doenças, causando desequilíbrio à fauna e a flora.
É praticamente impossível fazer uma ida
ao entorno de um lixão sem encontrar cachorros e urubus. Mas o grande vilão é o
chorume gerado pelos lixões. O líquido, considerado 100 vezes mais poluente que
o esgoto, escorre por debaixo da terra até chegar ao solo, uma vez lá, pode
contaminar a terra, a vegetação e a água.
O esperado para o lençol freático é que
não haja presença de nitrito, nitrato e amônia. A interferência do aterro e a
ocupação irregular contribuem para a alteração da qualidade da água.
Até mesmo as árvores próximas aos aterros
apresentam metais pesados nas folhagens. Essas plantas geram flores e frutos
que podem, futuramente, trazer problemas a população urbana.
Em relação à população que vive entorno
do lixão, faça sol ou chuva, durante o dia ou à noite, eles ganham a vida sem
nenhuma segurança ou higiene, são obrigados a conviver com o cheiro forte e as
constantes ameaças de contaminação.
Além das ameaças de contaminação por doenças, esses
trabalhadores também estão diariamente expostos a graves acidentes. Apresentam
como características o baixo grau de instrução, despreparo e a falta de
qualificação para o exigente mercado de trabalho. Além disso, é observada a
degradação ambiental pela ação dos aterros sanitários, perigo de contaminação
do lençol freático e risco social pelo descaso das instituições públicas.
“Se formos pensar no dia a dia, o que
cada pessoas gera de lixo, o confronto com a realidade nos faz refletir”. O
lixo tem que ser separado, para ser corretamente destinado. Ele é um problema
de toda a sociedade. O caminho a percorrer para que nos eduquemos em
coleta seletiva é longo e necessita do envolvimento de cada um na sociedade.
O BRASIL NÃO ESTÁ PREPARADO PARA POLÍTICA NACIONAL DE
RESÍDUOS SÓLIDOS, MOSTRA LEVANTAMENTO.
Um levantamento realizado em todos
os estados brasileiros e no Distrito Federal revelou que até o fim de 2013
apenas o governo de Santa Catarina havia conseguido erradicar os lixões. Os
dados são ainda mais alarmantes. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca
de 50% dos resíduos sólidos urbanos produzidos no Brasil ainda são jogados em
lixões. O mapeamento permitiu identificar junto às secretarias de meio ambiente
e demais órgãos responsáveis pela produção de resíduos sólidos as ações
realizadas pelos municípios para cumprir a meta estipulada pela Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), prevista na Lei Nº 12.305, que determina a
desativação desses espaços até 2 de agosto de 2014.
UMA LONGA DISCUSSÃO
"É ilusão
acreditar que em 2014 isso vai ser resolvido". A afirmação é do professor
Pedro Murrieta, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade
de Brasília (UnB), sobre o prazo estabelecido para desativação dos lixões em
todo o país. Murrieta integra o grupo que elaborou a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS). Ele confessa que a equipe tinha consciência de que o
limite de quatro anos para acabar com os lixões era inviável.
Murrieta esclarece, contudo, que a decisão
foi tomada para estimular os estados e municípios a criarem ações concretas
para erradicar os lixões. Além disso, com a PNRS, o governo federal passou a
ter mais controle sobre o processo de desativação. "A lei permite ao
governo cobrar mais diretamente os municípios que não a cumprirem. Assim o
Estado terá condições de erradicar os lixões em um tempo menor", explica.
Antes de ser aprovada,
em agosto de 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos ficou 20 anos em
tramitação no Congresso Nacional. Ao ser criada, ela trouxe obrigações para os
governos federal, estadual, municipal e distrital. Em 2011 e 2012, o Ministério
do Meio Ambiente chegou a repassar uma verba de R$ 56 milhões ao Distrito
Federal e a 19 estados que solicitaram ajuda do órgão para auxiliar na
elaboração dos planos de resíduos sólidos. Entretanto, segundo a PNRS, é de
obrigação exclusiva dos municípios e do DF a erradicação dos lixões
brasileiros.
Questionados se é possível implementar
modelos de tratamento do lixo de países desenvolvidos no Brasil, os
especialistas são enfáticos ao dizer que seria necessária uma grande mudança
cultural. "É possível implantar esses modelos, mas é preciso haver
mudanças, principalmente, na educação. Noções de separação do lixo e de que ele
pode dar lucro são exemplos de transformações a serem feitas pela educação.
Elas devem estar presentes na mentalidade do brasileiro. Falta uma política com
visão de longo prazo", opina o professor da Escola Politécnica da USP. Já
a presidente do Gea não acredita ser possível trazer esses modelos para o
Brasil por motivos como diferença cultural e falta de investimento econômico no
setor, entretanto afirmou que o Brasil está no caminho certo. "Os próprios
catadores se reuniram e formaram cooperativas, é o correto. No exterior, as
cooperativas são criadas por empresas onde o presidente não é um catador. Esse
modelo nosso começou há pouco tempo está só no início, mas nos estados do Sul e
em São Paulo isso é bem desenvolvido. Inclusive exportamos esse modelo das
cooperativas para outros países da América Latina e da África", afirma Ana
Maria.