sábado, 5 de fevereiro de 2011

MISÉRIA X MISERICÓRDIA:


As pessoas que me cercam, amigos, familiares, irmãos em Cristo, costumam me ver como uma assistencialista , ou uma solidária, piedosa, “boazinha”, enfim; costumam me ver por uma ótica “embaçada”, do que na verdade pratico. Não sou nem de longe nada disso; a verdade é que desde pequena uma coisa sempre me incomodou muitíssimo: A MISÉRIA. Sempre senti, que diferente das tragédias, que não me abalam muito, a miséria, sempre foi algo que mexeu muito forte comigo, a ponto de eu sempre estar fazendo algo em função desse meu desconforto, por isso acabo por atrair esta visão desfocada sobre o que faço. Na verdade, apenas faço o que sinto me aliviar diante do que me incomoda. Mediante a essa “pequena confusão”, resolvi expor um pouco do realmente penso ou sinto, ao desenvolver esse tema; acompanhe a postagem deste mês.

MISÉRIA:


 Estado de penúria, de extrema pobreza. Fraqueza, defeito, imperfeição. Estado lastimoso, deplorável. Estado vergonhoso, torpe. Insignificância, bagatela, ninharia. (Dicionário).

Analisando os significados da palavra miséria, fica muito fácil perceber que não se trata apenas de um substantivo, para qualificar um estado encontrado em uma só área de nossas vidas, ou seja na área financeira, mas é um "vírus", que atua de maneira muito mais abrangente, atuando em várias áreas. Vejamos algumas:
MISÉRIA MORAL / MISÉRIA FÍSICA / MISÉRIA MATERIAL / MISÉRIA EMOCIONAL / MISÉRIA ESPIRITUAL / MISÉRIA EDUCACIONAL / MISÉRIA OPERACIONAL / MISÉRIA SOCIAL / MISÉRIA COMPORTAMENTAL. ETC.

MISERICÓRDIA:

 Etimologicamente vemos que a misericórdia se compõe em miser (miséria) + corde (coração). Isto significa sentir com o coração os sofrimentos e as dores de alguém que sofre suas misérias. Caracteriza sempre uma ajuda, atual, plena e eficaz a quem precisa. Abrange, muito além do ”querer bem“, aproximando-se, sobretudo do ”fazer o bem“.

Misericórdia é, como já foi visto aqui, o ligar-se com o coração à miséria do pobre e do excluído, seja em que área essa miséria atue. É sentir visceralmente a dor do outro. Misericórdia não é uma simples atitude assistencialista, cíclica e superficial. Ser misericordioso é sentir com o coração a aflição e a miséria do outro. Algo radicado no amor unilateral do misericordioso, em relação ao seu semelhante. Colocar-se por inteiro no lugar do outro. "E se fosse comigo?".

ATUAÇÃO DA MISÉRIA EM DIVERSAS ÁREAS:



MISÉRIA MORAL:
Geralmente quando nos referimos a alguém com a seguinte expressão: _ "Fulano" é miserável! Estamos nos referindo a condição moral deste "fulano". O " miserável", soa como alguém de caráter duvidoso, vil, "filho da mãe", alguém que nos causa indignação moral, o "mesquinho".

A miséria moral, tira do indivíduo, o senso comum, ou bom senso. Seus "portadores", são aqueles capazes de atitudes desprezíveis em seu meio.

MISÉRIA FÍSICA:
Seus portadores são: O doente, o "fraco", o preguiçoso, o cansado. Etc. Aqueles cujas condições físicas os impossibilitam de praticarem ações comuns ao seu meio.

MISÉRIA MATERIAL OU FINANCEIRA:
Seus portadores são: O paupérrimo, o sem teto, o faminto. Aqueles cujas condições são limitadas apenas pelo aspecto financeiro.

MISÉRIA EMOCIONAL:
Seus portadores são: O suicida em potencial, o "coração de pedra", o excessivamente medroso , o extremamente tímido, o desconfiado, o inseguro. Etc. Aqueles cujas condições emocionais se apresentam incomuns ao seu meio.

MISÉRIA ESPIRITUAL:
Seus portadores são: O " homem sem Deus no coração", o psicopata, o insensível, o drogado ( não sente a alma, vive "anestesiado"), o "desgraçado" (que causa desgraça), etc. Aqueles que "demonstram" emoções apenas favoráveis ao seu próprio ego, os que ignoram seu próprio meio.

MISÉRIA EDUCACIONAL:
Seus portadores são: O arrogante, o prepotente, o "grosso", o ignorante, o "ogro", etc. Aqueles cujas atitudes limitam-se a "falta de educação" em seu meio.

MISÉRIA OPERACIONAL:
Seus portadores são: O "burro", o "travado", o incompetente, o "bitolado", o teimoso, o inconveniente, o "sem noção", etc. Aqueles cujas limitações estão diretamente ligadas ao desenvolvimento de atuação prática.

MISÉRIA SOCIAL:
Seus portadores são: O "favelado", o "caipira", o analfabeto, etc. Aqueles cujas limitações não partem deles, mas do meio em que vivem.

MISÉRIA COMPORTAMENTAL:
Seus portadores são: O mimado, o "criançola", o "bobão", o "super-herói", o "estrela", etc. Aqueles cujas limitações os impedem de comportarem-se de maneira adequada em seu meio.


AVALIANDO AS CONDIÇÕES:



Abrindo-se o leque,( apenas com uma pequena "palhinha"), podemos perceber que o tema miséria é realmente muito mais abrangente do que nos damos conta e, analisando com mais atenção, notamos que o número de portadores de algum tipo de miséria torna-se muito maior do que poderíamos supor e, muitos são portadores não apenas de um tipo de miséria, mas de alguns. ( Se tivermos muita boa vontade, encontraremos algum vestígio do "vírus", em nós mesmos. )
Então; que tal nos esforçar um "pouquinho" e "pegar nossa lupa", vamos "investigar" melhor o nosso eu e nosso próprio meio, vamos olhar com mais atenção para nosso interior, nossa família, nosso "mundinho". Teremos a total certeza do que iremos encontrar? Dependendo da resposta (sincera), o que pensar ou fazer?
Em primeiro lugar, trazer a tona o reconhecimento do "vírus" e a compreensão do "porque"de sua atuação. Em segundo lugar, não perder de vista a possibilidade de que algum aspecto do vírus pode ser passageiro, apenas momentâneo, circunstancial. Sendo assim; não tão preocupante, neste aspecto, precisamos apenas de um pouco mais de policiamento. Em terceiro lugar, mediante as constatações recém - formadas; repensar com mais afinco no significado da palavra : MISERICÓRDIA.

A MISÉRIA HUMANA:


Ao pensar em tragédia, o raciocínio por vezes pode nos conduzir ao inexplicável, ao imprevisível, algo que foge completamente do nosso "controle"; maremotos, tisunames, terremotos, ciclones, furacão, enfim uma série de fenômenos naturais por vezes causam grandes tragédias, alheias a atuação humana, simplesmente seguindo o curso da força da natureza ou "vontade Deus". Exatamente por isso, ou seja, por fugir a alçada humana; o sentimento diante dos fatos, (pelo menos para mim), é de extremo respeito e reflexão, sem maiores conjecturas, mas; com relação a miséria o sentimento é diferente, causa indignação, causa comoção, pois ao contrário das tragédias, a miséria é causada apenas pelo próprio ser humano. Na maioria das vezes, costumamos confundir os fatos e atribuímos a tragédia o que na verdade vem da miséria; como as guerras, sempre causadas pela miséria espiritual, grandes acidentes, causados pela miséria educacional ou emocional, desmoronamentos e desabamentos, causados pela miséria operacional, enfim; onde por trás da tragédia existe a mão do homem e sua responsabilidade, não deveria ser entendido como tragédia, mas como miséria humana, reforçando ainda mais a necessidade de revermos conceitos a respeito da miséria e de identificarmos responsabilidades nossas dentro do quadro, pois nós, os seres humanos, não somos como queremos acreditar, seres individuais, somos seres sociais, vivemos na coletividade, portanto, todos somos mesmo que indiretamente, responsáveis pelo meio em que vivemos e, se negligenciamos o nosso papel, nos tornamos "cúmplices" da miséria, e aí não adianta perguntarmos, o porque ou onde estamos falhando, precisamos sim perceber que falhamos ao olharmos egoisticamente para o nosso próprio umbigo e ignoramos o nosso meio. Essa consciência nos leva a revermos o verdadeiro valor da misericórdia.

QUAL O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA PALAVRA MISERICÓRDIA?


Quando falamos em misericórdia, logo pensamos em bondade, piedade, compaixão, perdão e clemência, quando analisamos a etimologia da palavra misericórdia, descobrimos que é composta por duas palavras latinas: Miser, miséria; córdia, coração, isso nos dá seu maior significado;um coração bondoso e repleto de amor voltado para as misérias alheias .
Ser misericordioso é ter um coração piedoso voltado para misérias e desgraças de outrem, na pratica é lutar, fazer tudo que estiver ao alcance para resgatar alguém de seu estado miserável.

MISERICÓRDIA APLICADA:


É chegada a hora de revermos nossos valores, olharmos para o nosso meio e para dentro de nós mesmos, e nos perguntarmos, abertos a encontrar a resposta, onde estamos falhando. Estamos falhando talvez, em não conseguirmos olhar para o outro da mesma forma que olhamos para nós mesmos, com a mesma complacência, com o mesmo "divisor de águas", entendendo no outro o que conseguimos entender sobre nós mesmos, nos colocar inteiramente na situação do outro e encontrar explicações ou comportamentos que esperamos receber estando dentro da situação. Ninguém pode ter a certeza de jamais se encontrar dentro dessa ou daquela situação, ninguém pode garantir a si mesmo a plena convicção sobre o seu amanhã, ou sobre seus sentimentos e comportamentos futuros. A misericórdia é a qualidade que deveria ser predominante em nós, pois ela banha o homem com um gesto de acolhida indescritível, que inclui compaixão, perdão, clemência, tolerância, piedade, paciência, ternura, etc. Afinal, quantas vezes nos pegamos "perdendo a cabeça", ou desorientados? Será que apenas o meu "eu" tem direito de falhar em determinada área, ou em "certos momentos"? E, se, sendo assim, se "eu" fosse o outro?
A resposta é que saberíamos exatamente como gostaríamos de sermos compreendidos, e é à isso que devemos chamar de misericórdia aplicada.

EFEITOS SENTIDOS AO APLICARMOS A MISERICÓRDIA:


Vamos imaginar algumas situações para nos servir de exemplos:
Ao sentirmos uma grande raiva de alguém: Ao começarmos a tentar olhar friamente a situação em que este alguém nos fez sentir raiva, vamos nos colocar no seu lugar e imaginar o que poderia ter ocorrido com esse alguém para que agisse de maneira adversa ao nosso ânimo? Ao conseguirmos visualizar possíveis causas que nos levaria a agir da mesma maneira, começamos a entender um pouco o outro lado da situação, consequentemente, começamos a diluir esse sentimento ruim em nós e não nos deixamos dominar por esse sentimento, assim sendo, nos sentimos melhor a medida que nossa raiva é diluída, ou seja; fazemos bem a nós mesmo ao processarmos esse sentimento.
Ao sentirmos uma enorme tristeza ou mágoa, causada por alguém: Seguindo o mesmo processo de tentar enxergar friamente o que poderia estar por trás, percebemos que “é até compreensível”, da mesma forma, perceberemos que essa visão, inicia um processo para diluir o nosso próprio sentimento de mágoa ou tristeza, com isso, faz-nos sentir um pouco melhor diante da situação, aos pouco diluindo o que nos corrói.
Enfim; situações que nos causam mal, resultantes de atos de miséria de alguém, ao serem analisadas friamente por um ângulo mais fechado e voltado para o nosso “eu” nas mesmas circunstâncias, passarão a ter outra dimensão em relação aos nosso sentimentos, com isso conseguimos ultrapassar o sentido de “fazer bem ao outro”, perceberemos que com a prática da misericórdia, antes de mais nada e acima de tudo; estamos NOS FAZENDO UM GRANDE BEM, CURANDO NOSSAS PRÓPRIAS FERIDAS,
PORTANTO; O QUE ESTÁ FALTANDO PARA EXERCITARMOS A MISERICÓRDIA?

LEMBRA-SE DO: AMAR AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO?

Pois então, podemos agora verificar, que sem sombras de dúvidas ao proferir esta máxima, Jesus não estava de maneira nenhuma se referindo a ideia ilusória de muitos de “como o amor é lindo”, do “eu te amo meu irmão”, não, Jesus estava se referindo ao sentimento de respeito e compreensão em relação a nós mesmos aplicadas no outro, de maneira tal que nos leve a sentir-nos sempre bem conosco mesmo. A não nos fazermos mal, nutrindo sentimentos danosos ao nosso “eu”, por ignorarmos o antidoto; a MISERICÓRDIA.