Cracolândia:
Uma terra sem pai!
No jogo político de empurra, a discussão
sobre soluções para a explosão do consumo do crack no país e o combate ao uso
da droga mais devastadora das últimas décadas descamba para o discurso
simplista: a busca por culpados. Não existe um culpado pela Cracolândia. Não dá para
dizer que é culpa de uma única gestão, porque todas foram negligentes e não
souberam enfrentar o problema. Enquanto políticos empurram a paternidade do
problema uns para os outros e não apresentam soluções efetivas para conter a
explosão da droga, especialistas afirmam que não há como apontar um único
responsável. A ausência de dados e registros oficiais dificulta ainda mais a
compreensão exata do problema.
Expansão - Divergências
políticas à parte, o que interessa é que nem mesmo o governo federal conseguiu
mapear de forma real a expansão do crack, a droga mais devastadora das últimas décadas e apresentar soluções efetivas para erradicar
a droga, que se alastrou pelas capitais de forma avassaladora e chegou aos
rincões do país. O Plano de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, lançado com
pompa pela presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2011, ainda não foi
colocado em prática. Uma pesquisa que promete expor a dimensão do crack no
país, encomendada pelo Ministério da Justiça à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
ainda está em fase de conclusão.
O principal levantamento sobre o consumo de
crack, feito no ano passado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) em
4.430 das 5.565 cidades brasileiras, revelou que há consumo da droga em 91%
delas. A pesquisa, porém, não traz uma evolução histórica da presença do crack
e carece de informações de capitais importantes, como São Paulo, Rio de Janeiro
e Belo Horizonte.
Os dados mais antigos sobre o crack no Brasil remetem ao início da
década de 2000 e não trazem números específicos. Uma pesquisa encomendada pelo
governo federal ao Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas
(Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 2005, mostra um
consumo discreto e estável na população brasileira entre 2001 e 2005. De acordo
com o Relatório Brasileiro sobre Drogas, feito pelo Ministério da Justiça em
2009, há evidências de que a partir de 2005 o consumo do crack cresceu
vertiginosamente, porém não há números que comprovem essa constatação.
A concentração dos "crackeiros" ou
“cracudos” é um processo natural, uma vez que o alto grau de dependência da
droga exige um local onde o poder público não está presente. "As zonas
abandonadas foram escolhidas por viciados em todas as cidades do mundo onde há
crack".
Por ser barato e ter devastador poder de
vício, o crack atingiu inicialmente as populações mais vulneráveis: crianças e
moradores de rua. No entanto, o consumo logo se alastrou para outras classes
sociais. Usuários costumavam ficar confinados por horas em construções
abandonadas da região para consumir a droga perto dos traficantes. O uso à luz
do dia também se tornou recorrente.
As cracolândias ganharam status de
"nações independentes", ou seja, se "consolidou", em meados
dos anos 90. Em meados dos anos 2000 começou o "uso descarado" do
crack nas grandes cidades. A definição “descarado”, nada mais quer dizer que o
uso público da droga passou a ser tolerado.
As investidas para desmontar a Cracolândia, em diferentes governos,
foram em vão até agora. As operações policiais para prender usuários tem seus
resultados nada auspiciosos: as Cracolândias apenas se deslocam de algumas
quadras para outras, na mesma região.
Nas gestões governamentais não houve registros
de ações sociais e de saúde significativos. As cracolândias em seus inícios não
apresentavam a densidade de hoje e também não era uma das grandes preocupações
das gestões.
O objetivo ilusório dos gestores é de
recuperar o local sem retirar quem mora ali, como os usuários.
Eles querem melhorar o território sem tratar
os dependentes e prender os traficantes.
A única maneira de combater o crack é com
polícia para os traficantes e saúde para o usuário.
Vinte anos depois de a Cracolândia sofrer um processo de
"consolidação", o poder público ainda tenta erradicar a droga dos
grandes centros sem sucesso. Há falta de continuidade na implantação de
políticas públicas de prevenção e tratamento para usuários de crack. Mas a
discussão vai muito além, pois há um agravante: além de ser uma questão de
saúde pública, o combate ao crack é, também, e acima de tudo, uma questão de
segurança pública. Não haverá sucesso sem sufocar o tráfico de drogas. A
polícia em suas ações "desastradas” e sem planejamento, não conseguiu ao
menos desmontar o cenário dos traficantes. O primeiro de muitos passos que a
sociedade espera serem dados em busca de triunfo na batalha contra esse
flagelo.
O que quase ninguém sabe é que os usuários
andam em grupo por um único motivo, que é defender o fornecimento de crack. A polícia
tem uma grande dificuldade para atuar nas cracolândias, pois os dependentes
desenvolveram uma estratégia se aglomerando, porque os traficantes ficam ali no
meio. Quando há uma ação, eles correm para todos os lados, pois a única
preocupação de um dependente é não perder a pedra. Tomar uma cacetada é o de
menos, eles não se importam. No meio de 300 zumbis (usuários de crack), existem
pelo menos 15 traficantes que estão conectados com o tráfico internacional do
Paraguai, da Venezuela ou da Bolívia.
Tráfico de drogas
Outra parte da realidade pouco divulgada das
Cracolândias é o submundo do tráfico. Além do mercado “oficial” de drogas,
existe um mercado paralelo que envolve praticamente 1/3 dos usuários. De
300 zumbis que vivem ali, por exemplo, pelo menos 100 são mini-traficantes.
Porque o que um viciado mais faz, é pegar R$ 10, comprar uma pedra boa e
quebrar em 3 pedacinhos. Assim, ele vende um desses pedaços, recupera o
dinheiro e refaz o processo.
Ao não oferecer um tratamento contra o vício,
o poder público não vai tirar os dependentes das cracolândias. Sobre a internação compulsória, eles os
viciados, são internados inúmeras vezes compulsoriamente. Para deixar
completamente o vício, são necessários no mínimo 2 anos, sem nenhum tipo de
contato com a droga, dinheiro ou com o ambiente, o que não acontece com
atuais programas implementados.
As secretarias de Saúde, Trabalho, Assistência
Social e Segurança Urbana precisam unir forças para ajudar a desmontar as
cracolândias. O que estamos vendo nas cracolândias que se espalham pelo
Brasil é a agenda de liberação das drogas através do jogo sujo de fazer política.
Uma sociedade mergulhada nas drogas, burra e não pensante é uma ótima arma
quando se quer eternizar no poder.
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