sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

MENSAGEM RECEBIDA:


Esse texto é de uma amiga de Teresópolis...

A todos os amigos que se preocuparam,

Eu estou bem.
Estamos sem luz, sem telefone, internet, sem água (que foi cortada pelo risco de contaminação dos corpos dentro dos rios), poupando bateria de celular.
Entre minha casa e a primeira curva havia 7 barreiras e deslizamentos, mas hoje a estrada já foi liberada para moradores e consegui fazer chegar a comida que havia faltado.
Todos os moradores do meu condomínio deixaram suas casas a pé, a água subiu a uns 2 metros para dentro do condomínio e duas casas que ficavam mais baixas, perto do rio foram varridas com perda de tudo dentro (uma está inteiramente rachada).
Eu fiquei aqui "com os ratinhos do navio".
Minha casa não tem mais cercas pela ação da água.
De hoje para amanhã perto de mim as coisas devem melhorar, talvez com luz e, daí,com celular.
Vim até uma lan-house para escrever a todos os que foram maravilhosamente incríveis procurando notícias e oferecendo ajuda.
A cidade virou o Haiti, nas regiões mais afetadas o cheiro está insuportável, os corpos chegam em caminhões baú, 60, 80 de uma vez. Ou levados pelos oradores que ainda têm carro, em pic-kups, caminhonetes, fuscas. Não se consegue fazer uma contagem oficial, os que foram computados são apenas os que foram reconhecidos. Pessoas passam boiando pelos rios.
Pelas ruas os corpos estão amontoados, ou sob escombros que máquina nenhuma conseguirá retirar. Começam-se a encontra pés, braços.

Os animais ficaram para trás em casas trancadas, sem comida ou água, ou no alto das ribanceiras despencadas, andando de um lado para outro em desespero, sem conseguir descer.
Os poucos moradores que deixam suas casas arrastando animais desesperados chegam no local onde são recolhidos pela Defesa Civil para descobrir que não poderão levar seus animais para os abrigos. São então abandonados às dezenas neste local.
Tem chovido intermitentemente, mas não forte, mas as próximas previsões são assustadoras.
Os bairros onde sobraram casas em pé serão totalmente evacuados por conta do rompimento da barragem do rio mais afetado.
Não tenho ideia de como será possível para cada um de nós andar pelas ruas sem poder socorrer a todos.
Ao lado de minha casa é o sítio por onde as pessoas cruzavam o rio para chegar ao outro lado do asfalto, fugindo das catástrofes.
Era como um êxodo de guerra, levas de pessoas, sempre em silêncio profundo, adultos carregando suas crianças e seus bebês, homens vergados sob o peso do que era possível carregar nas costas.
Todos de cenhos franzidos, idosos em passos arrastados, todos com estórias para contar de terrores inimagináveis.
Doem, por favor doem. Qualquer coisa, ou de tudo um pouco.
Faltam, além de todo o básico óbvio na cidade, velas, fósforos, pilhas de todos os tamanhos, lanternas, medicamentos,
A prefeitura se mobilizou e comprou todo o estoque das farmácias que, mesmo assim não dá conta, então faltam medicamentos para as equipes de resgate e para os moradores.
Já existem casos de leptospirose e de tétano, e o número vai aumentar exponencialmente nos próximos dias.
A cidade hoje está sendo saqueada, pedestres estão apanhando nas ruas.
Acho que perto de minha casa estarei em segurança.
O outro lado desta estória é o trabalho incansável e incessante das equipes de todas as procedências, trabalhando madrugadas adentro sem cessar, no breu, na chuva, no risco, nos deslizamentos. São os que liberam estradas, recolocam postes, levam e buscam moradores, doações, resgatam, tratam, socorrem.
São repórteres chorando em frente às câmeras por não suportar a visão do que é indescritível.
Vou tentando dar notícias nos próximos dias.


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